Muito novo me interessei por empreender. Lembro de ainda pequeno desenhar meus negócios e empresas. Adolescente, fanático por computadores e já programando, ao conseguir um trabalho para a criação de um programa, subcontratei um amigo para realizar a programação e não perder meu tempo com isso, podendo então me dedicar a buscar novos trabalhos para nós dois. Foi quando me dei conta de que gostava mais dos negócios do que das atividades fim.
Filho de economista com cargo de chefia em banco, com facilidade para matemática, não demorou muito para estudar sobre investimentos. Minhas primeiras incursões na bolsa de valores foram facilitadas pela linha telefônica que já possuía em meu nome (para usar no computador sem monopolizar o telefone dos meus pais), pois na época, comprar linha telefônica implicava em automaticamente comprar ações da companhia telefônica atreladas à linha.
Quando comecei a estudar investimentos e a montar meus primeiros negócios, meu objetivo era ganhar muito dinheiro, enriquecer, e poder comprar todos os equipamentos e objetos que pudesse. Gostando de computadores ainda no início da revolução tecnológica, era bastante caro se manter atualizado nesta área.
Apesar de ter ido à Disney aos 17 anos (bancado pelo pai) e ter adorado a viagem toda, parece que o objetivo de “possuir coisas” me deixou meio cego por bastante tempo.
Quando viajar passou a depender de usar meus próprios recursos, simplesmente as viagens acabaram. Lembro hoje com certa tristeza de como pensava sobre o assunto: “porque irei viajar e gastar todo esse dinheiro em uns poucos dias de diversão que acabam em seguida, se com este valor poderia comprar X?”
Em 2009 fiz com minha esposa uma longa viagem pela Europa. Ficamos mais de um mês passeando por Espanha, França, Itália e Inglaterra. Foi um abrir de olhos. Ao mesmo tempo em que todos os objetos que possuía ou havia comprado nos anos anteriores haviam ficado obsoletos (computadores, máquinas fotográficas, etc), aquela viagem abriu meus olhos de uma forma que nenhuma outra havia conseguido. Claro que tínhamos feito pequenas viagens antes, mas sempre para locais mais próximos, como Buenos Aires, em que tanto o custo quanto a familiaridade geográfica não permitiam que eu obtivesse minha revelação.
A experiência de uma viagem fica para sempre na nossa memória. Não apenas as coisas que fazemos, mas a cultura que absorvemos, nos fazem crescer. Vivenciar o dia a dia de outro país, de outra língua, de outra mentalidade, abre nossa cabeça de uma forma que não julgava possível.
Desde então procuro viajar com regularidade. E proporcionar passeios mais longos com frequência suficiente para meus filhos de maneira a que eles tenham isso como normal.
Empreender e investir se tornou uma ferramenta para proporcionar experiências de vida.
Chega a ser engraçado hoje, ao olhar para trás, ver o quanto eu dava importância à propriedade das coisas, em ter coisas, em conquistar objetivos materiais. Não que eu ache ruim ter coisas boas, em usufruir de objetos que nos tragam prazer, mas com o tempo cada vez mais restrito, seja pelas escolhas de paternidade presente, seja pelo simples excesso de opções, vejo a propriedade muito mais como uma questão de qualidade do que de quantidade.
Antes, com todo tempo do mundo a disposição e um interesse focado em duas ou três coisas (computadores e fotografia, no meu caso), a possibilidade de experimentar (e possuir) todos os tipos de computadores, o equivalente hoje a querer possuir e usar simultaneamente tanto iOS quanto Android e outros sistemas já obsoletos, ou em outra escala, ter quatro ou cinco carros, um para cada tipo de situação, era o objetivo natural.
Isso me foi bastante útil na época. Não quero aqui cuspir na pessoa que fui. Mas essa pessoa, não sou mais. Poder possuir (na época era a única forma de poder efetivamente usar e conhecer profundamente) diferentes computadores foi vital para aumentar meu conhecimento neste ramo e teve impacto significativo no meu sucesso neste mercado. Vejo isso hoje como investimento em formação prática no assunto.
Essa questão de ter, entretanto, extrapolava o lado da busca de conhecimento sobre o assunto. Queria também ter carros esportivos, Jeep, moto, jet-sky, etc. E como li algum dia por aí, podemos ter qualquer coisa que quisermos, mas não podemos ter tudo que quisermos ao mesmo tempo.
Já hoje, com a abundância de informação disponível através de videos e artigos na internet, muito pouca coisa é realmente necessário possuir para formar uma opinião concreta sobre determinado campo. Vejo hoje os objetos como meras ferramentas para um fim, e neste sentido, nem mesmo o mais moderno ou completo necessariamente deve ser o melhor, mas sim, o que mais se adapte à pessoa e ao trabalho que ela quer realizar. Câmeras fotográficas analógicas hoje em dia? Sim, é possível e interessante.
Então não tendo mais “necessidade” de objetos variados para realização pessoal, e vivendo em uma época em que mesmo as ferramentas mais úteis podem ser obtidas por uma fração do que equipamentos profissionais custavam poucos anos atrás, além de termos acesso a tudo que precisamos de forma facilitada hoje em dia, o dinheiro acaba sendo a ferramenta master para conquistarmos o “bem” mais precioso: tempo.
Dinheiro hoje, basta o suficiente para ter uma vida tranquila, contas pagas, experiências suficientes para ocupar as horas do dia não dedicadas ao estudo e trabalho. E se tudo isso parece pouco, dê uma olhada mais profunda no que lhe falta. Pode ser que não seja “uma coisa”, mas sim, algo mais íntimo que você ainda não conseguiu descobrir em si.
Ou então simplesmente seja questão de que quanto mais podemos ter, passamos a nos dar conta de que menos precisamos para sermos felizes e completos.
Hoje completo 47 anos. Pode ser a idade 🙂